sábado, 11 de janeiro de 2014

Karl Barth, Vida e Teologia



Prof. Edson Pereira

Karl Barth, Vida e Teologia


Introdução

                        Nossa dissertação tem pelo menos três objetivos. Primeiro faremos um abordagem biográfica de Barth. Segundo, sobre sua Teologia Dialética e por último sobre como ele concebia a Palavra de Deus. 


I.             Karl Barth – uma biografia

Em Basiléia na Suíça dia 10 de maio de 1886 nasce um menino que seria considerado o maior teólogo do século XX seu nome é Karl Barth. Cresceu em um ambiente protestante de viés reformado e de profunda dedicação à teologia e à pregação. Seu pai inclusive ensinava teologia em Berne onde Barth passou sua juventude e seu avô foi pastor de uma pequena comunidade em uma aldeia suíça que ficava situado às margens do Reno denominada de Pratteln. Depois de estudar em Berne Barth estudou nas universidades de Tübingen, Marburg e Berlim na Alemanha. Na aldeia de Safenwil Barth exerceu seu ministério pastoral que seria fundante na sua teologia. Depois foi professor de teologia nas cidades alemãs de Göttingen, Münster, e Bonn. Em Bonn por não aceitar a ideologia nazista foi expulso desta universidade e voltou a Basileia onde ensinou teologia de 1935 a 1962 ano em que se aposentou. Faleceu em 1968 com 82 anos (MILLER; GRENZ, 2011 p. 13-14).
Podemos definir a teologia de Barth pelo menos em três momentos. O primeiro se da no contexto da teologia Liberal vigente naquela época denominado de método positivo, pois era o método usado pela teologia liberal que seguia o pensamento iluminista que tinha como pressuposto a razão.  Este método entedia que através da pesquisa cientifica e racional fosse possível conhecer a revelação de Deus inserida nas escrituras. Em segundo lugar temos o método dialético que é caracterizado ou influenciado por dois pensamentos filosóficos. O primeiro é a dialética do pensamento de Kierkegaard que tinha a oposição e a negação daquilo que é humano e uma mudança completa dos pressupostos da razão e a recepção cega da palavra a partir da revelação. Em segundo temos a dialética de Hegel em que Barth fará uma interpretação menos parcial. Por isso ela se revestirá de elementos negativos e positivos característicos da filosofia hegeliana entre o eterno movimento do não e do sim ou vice e versa. E por último sem negar a dialética temos a analogia da fé que consistia na revelação graciosa de Deus como fator fundamental para se interpretar a Palavra de Deus (MONDIN, 2003, p. 54-60).

Outro ponto interessante, a partir de suas experiências comunitárias como pastor é que Barth vai desenvolver seu pensamento teológico. O primeiro ponto que queremos destacar é sua decepção com liberalismo teológico e mais especificamente seus professores dentre eles Harnack e Hermann que apoiaram as ideologias das políticas de guerra do Kaiser. Segundo, era que se fazia necessário elaborar uma teologia dialógica e por isso contextual que atendesse as necessidades vigentes da comunidade e por último, Barth dentro de uma perspectiva socialista e igualitária luta a favor dos pobres trabalhadores em Safenwil que eram explorados e por causa disso ele foi denominado de pastor vermelho. Sua obra Carta aos Romanos é fruto deste contexto (MILLER, 2011, p 17-18).

Barth foi escritor profícuo. Suas obras podem ser divididas em obras exegéticas, históricas, dogmáticas e políticas (MONDIN, 2003, p.43 – 45). Segundo Miller:

A quantidade de livros que os teólogos contemporâneos fizeram brotar de suas canetas, máquinas de escrever e processadores de texto pode ser comparada às águas do Nilo em época de cheia. Karl Barth, porém, sem sombra de dúvida bateu o recorde.  Não bastasse a imensa pilha de livros que escreveu, Barth também é autor da monumental Dogmática eclesiástica: treze volumes, nove mil páginas, oito milhões de palavras e que ele deixou inacabada por ocasião de sua morte! Dizia-se que Barth deveria ter tinta nas veias, em vez de sangue. (MILLER; GRENZ, 2011 p. 16).  

II.            Karl Barth – Teologia Dialética

                        A teologia Dialética foi uma escola teológica em que os temas prementes foram discutidos e analisados. Dentre aqueles que faziam parte desta escola podemos citar Karl Barth, F. Gogarten, E. Thurneysen, E. Brunner e G. Mertz e R. Bultmann. Elaboraram uma revista chamada Entre Tempos (Zwischen den Zeiten) órgão pelo qual este movimento tornou conhecidas suas posições e reflexões teológicas (COLLANGE, 2004, p. 243) que contrastava a teologia liberal da época que resumia o cristianismo apenas a aspectos culturais, políticos e sociais. Por isso a Teologia Dialética procura contrapor a ideia de se querer conformar ou criar um tipo de relacionamento harmonioso entre Deus e o ser humano, a revelação de Deus e a razão que segue os pressupostos do iluminismo científico, a comunidade cristã e a cultura vigente. A dialética Barthiana serve como catalizador teológico deste contexto, pois busca perceber o porquê das tensões, antagonismos e desacordos. Por causa da revelação de Deus a condição do ser humano é vista de forma negativa e contrária à vontade de Deus. Por isso os seres humanos estão debaixo do juízo divino que eclode em uma crise no interior humano. A teologia de Barth é também chamada de Teologia da Crise. Característico deste seu pensamento é sua obra Carta aos Romanos, neste livro a distância entre Deus e o ser humano é infinita (ROOS, 2008, p. 977).
                       Para Barth Deus é denominado como o Totalmente Outro, ou seja, Ele transcende o ser humano em todos os aspectos. Todavia Deus se manifesta em Cristo e mostra por meio da sua Palavra a forma de termos acesso a Deus.  Cristo, portanto é resposta positiva, ou seja, o sim Deus para as nossas contrariedades, pecados, falhas que é caracterizado pela negatividade. Ao ser humano é negada a possibilidade de se conhecer a Deus a partir do mundo natural, cultura e do ser humano especificamente em decorrência de sua lastimável condição. Sua teologia despreza a Teologia Natural que é a Teologia do Ser mais propõe uma teologia em consonância com a revelação de Deus denominada de Analogia da Fé. Para ele era impossível que o ser humano através dos seus esforços pudesse alcançar o favor de Deus. Barth afirma que este tipo de postura é característico das religiões. Neste sentido a teologia de Barth é de movimento descendente. É Deus que em sua graça e misericórdia vem por meio de Cristo salvar o ser humano (ROOS, 2008, p. 977).

III.           Karl Barth – Palavra de Deus 

                        Para Barth o motivo pelo qual versa a teologia dogmática é a Palavra de Deus. Seguindo a linha dos reformadores como Lutero e Calvino ele entende que a Palavra de Deus tem um sentido bem mais amplo do que o das Escrituras. Ele considerava a Escritura como um testemunho e sinal da Palavra de Deus revelada. Barth definia a Palavra de Deus como um conjunto completo da automanifestação de Deus, isto significa que a Palavra de Deus abrange toda a dimensão do ser da Revelação. A automanifestação de Deus é absoluta, extraordinária e inédita. Ela é percebida a partir de três momentos: a revelação, a Bíblia e a pregação. No primeiro momento temos uma manifestação divina, ou seja, o momento em que a Palavra de Deus torna-se substância através da revelação de Cristo. Em segundo, a Bíblia é meio em que podemos trazer a memória o acontecimento de Deus revelado em Cristo. Nela podemos buscar e viver na expectativa da revelação futura. Por último temos a pregação. Que é definida como a proclamação do evento ocorrido no tempo e no espaço pelo qual Deus tornou e faz conhecido por meio da Igreja (MONDIN, 2003, p.63-64.).

                       Em cada uma das características ou formas da Palavra de Deus ela pode ser simultaneamente alocução, ato e mistério. Na alocução Deus fala através de elementos físicos como: pregação, palavra escrita ou pela natureza humana do Verbo. Segundo, é ato, ou seja, sua ação pode ser verificada em três momentos diferentes mais que estão intrinsicamente relacionados: na revelação Divina por meio de Cristo, na profecia e apostolado e na Igreja e pregação que se movimenta com o testemunho profético-apostólico. E no mistério temos uma dimensão profunda e indescritível da Palavra de Deus que impossível à mente humana compreendê-la ou alcança-la. Para Barth a Palavra de Deus tinha algumas qualidades que a teologia clássica geralmente atribuía a Deus, a saber: singeleza, invisibilidade, maturidade, elevada espiritualidade e sublimidade (MONDIN, 2003, p. 64-65).

Considerações finais 

                   A teologia de Barth pode ser considerada como dialógica, pois é fruto de um contexto pastoral e neste sentido comunitário, sociopolítico e teológico em que o teólogo passa por três momentos na elaboração da sua teologia. O positivo, dialético e analógico da fé. Com destaque para o dialético que passou por duas etapas de concepção filosófica. A primeira foi sob a influência de Kierkegaard e a segunda sob Hegel. Por fim temos a Palavra de Deus como à soma completa da automanifestação de Deus que pode ser vista na Revelação, na Bíblia e pregação.

.Bibliografia
COLLANGE, Jean-François. In: LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário critico de teologia. São Paulo: Paulinas: Edições Loyola, 2004.
MILLER, E. L.; GRENZ, J. Stanley. Teologias contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2011.   
MONDIN, Batista. Os grandes teólogos do século vinte. São Paulo: Editora Teológica, 2003.
 ROOS, Jonas. In: FILHO, Fernando Bortolleto (Org.). Dicionário brasileiro de teologia. São Paulo: Aste, 2008.

                       
                         
  
                       

     

 

   


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