sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A ação do Espírito

                                                 
                                                                 A ação do Espírito

                                                                                                             Prof. Edson Pereira

 Introdução

                Nossa reflexão sobre o Espírito tem quatro objetivos. Dar uma descrição do significado semântico sobre o Espírito. Segundo, a ação do Espírito na humanidade. Em terceiro, a ação do Espírito na vida de Cristo de acordo com as narrativas e tradições dos Evangelhos e por último como se deu a masculinização do Espírito e suas conseqüências para a cristandade.

A semântica do Espírito

                A Pneumatologia resulta da articulação empírica e histórica das comunidades judaicas e especificamente cristãs. Através da linguagem estas comunidades procuram descrever suas experiências com Deus. O Espírito Santo é compreendido e por isso representado como: vento, pessoa, ação, força criadora que atua e mantém a criação, ampliando o desenvolvimento da vida humana e da natureza ilimitadamente (MOLTMANN, 2010, p. 50-52). Por isso podemos afirmar que o Espírito Santo é vento que sopra soberanamente na cultura e natureza ativamente. Produz vida e a mantém. O Espírito Santo é pessoa, neste sentido nele e com ele e através dele podemos nos relacionar em amor com Deus, com o ser humano e com o cosmo. No Espírito a vida está sempre ampliando seus horizontes. Nele nossas utopias são vivificadas, alimentadas e estabelecidas. Através do Espírito, Cristo tem sua vida, obra, morte e ressurreição atualizadas na igreja e no mundo. (RIBEIRO, 2010, p. 120-124.). O Espírito é a porta de acesso em que Deus por Cristo se encarna para na cruz reconciliar a humanidade caída e reuni-la na sua comunhão (FORTE, 1995, p. 158).

Ações do Espírito na humanidade

                De acordo José Comblin (apud, RIBEIRO, 2010, p. 132) o tempo da ação do Espírito se dá na história em sinergia com a humanidade. Esta ação é transformadora, isto é, a humanidade que sofre de injustiças e explorações, oriundas de impérios predatórios tanto políticos como religiosos, terá suas vidas pessoais e comunitárias modificadas pelo estabelecimento do Reino de Deus. Reino alicerçado no amor, na justiça, solidariedade e paz. É ação universal e inclusiva. Todos participam e desfrutam da graça e vida do Espírito.

A ação do Espírito na vida histórica e teológica de Jesus

                 Nos Evangelhos percebemos que a vida de Jesus tanto histórica quanto teológica foi resultado da ação do Espírito (MOLTMANN, 2010, p. 67). Por meio do Espírito Jesus nasceu, pregou o Evangelho do Reino, o ser humano foi atendido de forma integral, o amor e a graça de Deus afetaram a todos, mas especificamente os pobres, seu kerigma foi vivificador e curador. Podemos dizer que o ministério de Cristo foi o ministério do Espírito. Em todos os momentos do seu ministério, de serviço, comunhão, tentação, alegria, tristeza e dor, o Espírito estava intrinsecamente relacionado com a vida, obra, morte e ressurreição de Jesus.

A masculinização do Espírito e suas consequências

                  A masculinização do Espírito surgiu a partir de alterações conceituais com relação à semântica. Consequentemente o cristianismo perdeu sua identidade com o Cristo. Com a masculinização do Espírito o cristianismo ficou sem posse de sua alteridade, dinamicidade, comunhão e poder kerigmático. Surgiu um tipo de cristianismo “oficial”, fechado nos seus dogmas e preceitos. Aqueles e aquelas que não vivenciam suas práticas são colocados a margem, daí surge o conceito de cristianismo marginal. O cristianismo marginal é constituído de pessoas como crianças, negros, escravos e principalmente mulheres relegados a um tipo de cristianismo secundário. Secundário, por que estas pessoas não são vistas a partir da gratuidade do evangelho que nos faz em Cristo um só corpo sem distinção, mas de dogmas estereotipados, tiram destes (as) o direito de lideranças eclesiais e políticas. O cristianismo com toda a sua dinamicidade étnica, cultural, musical, teológica, cúltica e literária ficou “enlatado” num formalismo rígido e padronizado. A expansão ativa e eficaz do Espírito ficou fora de cogitação. O cristianismo deixou de ser ecumênico, tornou-se fundamentalista, elitista, egoísta e mercadológico. As instituições não procuram mais o diálogo, a confraternização, a reconciliação, a comunhão, o serviço, marcas vitais do cristianismo. Por isso nosso discurso é dúbio, hipócrita, sem gosto, superficial e longe do ideal do reino. É muito parecido com o discurso dos fariseus que eram carregados de uma rígida e reta doutrina, contudo era ineficaz, não produzia vida, amor, paz e o estabelecimento da justiça.

Considerações finais

                 O Espírito é Deus em pessoa, caráter, força, poder, vida, expansão e amor. É ação vivificadora, transformadora e promotora do estabelecimento do Reino de Deus que é caracterizado por justiça, paz e amor. Jesus e Espírito se confundem como consequência da alteridade e unidade no plano cósmicosalvífico, sem deixar de lado suas peculiaridades como pessoas. Vida, obra, morte, ressurreição e kerigma de Jesus foram intrinsecamente movidas e relacionadas com o Espírito. A masculinização do Espírito alterou e prejudicou proclamação do Evangelho. Todos os valores do Reino como alteridade, comunhão, reconciliação, dinamicidade e autoridade kerigmática foram sacrificados. O que sobrou foi um cristianismo rígido, formalista, sem vida, sem testemunho, fundamentalista e hipócrita. Esqueceram que a vida cristã é vida no Espírito. Viver no Espírito é ter vida em intensidade, liberdade, amplidão, paz, amor e justiça, contra estas coisas não a formalismo dogmático.

Referências bibliográficas

FORTE, Bruno. Teologia da história: ensaio sobre a revelação, o início e a consumação. São Paulo: Paulus, 2010.
MOLTMANN, Jürgen. O Espírito da Vida: Uma pneumatologia integral. 2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
RIBEIRO, Cláudio de Oliveira. Teologia em Curso: temas da fé em foco. São Paulo: Paulinas, 2010. (Coleção iniciação teológica).

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